domingo, 4 de julho de 2010

Ela estava cansada daquela vida medíocre. Do marido bêbado, das dívidas e das cobranças familiares. Ha 10 anos ela levava aquele casamento infeliz. Nunca fora a mulher mais feliz do mundo. Sofria de uma doença rara que a consumia mais e mais a cada dia. Não tinha filhos. Nem queria. Achava que as preocupações que o marido trazia para ele diariamente já era demais. Sofria calada, e se odiava a cada minuto por não ter feito diferente. Se odiava por ter escolhido o homem errado, por sofrer calada,por não ser feliz. Culpava-se diariamente. E desejava morrer a cada dia que ía ao médico e enfrentava uma série de exames. Desejava morrer também cada vez que o marido abria a porta e lançava aquele olhar fulminante revestido de ódio e desejo. Era obrigada a ser mulher não só em casa, mas na cama para um homem bêbado e completamente agressivo.Chorava diariamente sua vida de desgraças. Sempre sonhou em ter uma profissão.Mas sua doença a impedia de exercer qualquer função. E o marido tinha ciumes afirmava diariamente que 'mulher dele não precisava trabalhar.'.Mas ela sentia essa necessidade. Porém, não podia. A única coisa a qual ela não era proibida era sonhar. Sonhava sozinha em seu quarto. Voava em seus pensamentos e vivia perfeitamente feliz no 'seu mundo' no mundo dos seus sonhos. Mas quando acordava tudo voltava como uma tempestade. Os exames, a falta de amor do marido, as dívidas. E então, a mulher triste e infeliz toma conta novamente. Certo dia ao acordar, ela abriu as janelas e prestou atenção no brilho do sol como nunca prestara antes.Foi então que decidiu arriscar, vestiu seu melhor vestido, arrumou-se toda. Abriu a porta do apartamento e saiu. Sentiu-se como um pássaro libertado da gaiola. E saiu sem destino.


[Patrícia Vidão]

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