sábado, 17 de julho de 2010

Saturday

'Bom dia querido! Levante-se vamos sair, passear, viver!''
Assim acordou-me Alice naquela manhã ensolarada de sábado. Eu estava confuso, pois Alice jamais me acordou numa manhã de sábado convidando-me para passear. Ela aparentava tanta felicidade que não ousei dizer não.
Levantei-me meio desnorteado e notei que ela já estava pronta como quem fosse passar o dia na rua, passeando como uma turista. Já segurava sua bolsa, óculos de sol e um grande chapeu. Não deixei de notar como ela estava linda. Uma beleza inexplicável. Que eu não havia notado antes. 
Saímos do nosso prédio e perguntei a ela onde íamos e ela com um sorriso lindo no rosto respondeu-me 'para onde o vento nos levar meu amor.', a princípio achei estranho, mas sabia que dentro daquela cabecinha havia uma rota pronta. Confiei em Alice, segurei sua mão e saímos pela cidade. 
Realmente o dia estava lindo como ela dissera, os pássaros da praça nos rodeavam, Alice a todo instante pedia que eu a fotografasse. Em cada parada centenas de fotografias. Essa foi mais uma coisa que achei estranho ora, ela nunca gostara tanto de fotografias. Não ousei questionar eu já ate imaginava sua resposta. 
Após tantos lugares visitados, tantas fotografias, tantos abraços e beijos. Paramos diante uma torre famosa de nossa cidade e observei Alice, ela aparentava cansaço porém não tirava aquele lindo sorriso da face.Brincava com os pássaros e dava 'cambalhotas' na grama, gritava meu nome chamando-me para participar daquele momento eu obviamente recusava. Em certo momento Alice aproximou-se de mim e não resisti, perguntei o por que de tanta euforia, tanta sede de viver. Ela fitou-me e disse 'Meu amor, o que você faria se hoje fosse seu último dia?'.




[Patrícia Vidão]

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Parágrafo.


Querido John,
Sentia imenso prazer ao te ver sorrir, ao sentir teu lábio tocar meu rosto, teus braços envolverem meu corpo com um abraço quente e recheado de desejo.
Estas eram as sensações que eu tinha ao ter você ao meu lado. Porém, os sentimentos e as sensações não eram recíprocas. Você estava ao meu lado apenas para caçoar de minha ingenuidade. Foi algo doloroso passar pelo que passei, entregar meus sentimentos mais sinceros a um alguém que sequer sabe o que é o amor. Alguém que jamais sentiu este sentimento tocar sua alma, envolver seu coração. Alguem que só Deus sabe se tem coração.
Mas minha alegria é imensa, a saber que com a vida aprendemos. E se essa foi a minha vez, a sua chegará, sem aviso virá. 

Abraços, sua Jane. 



[Patrícia Vidão]

segunda-feira, 12 de julho de 2010

Pequeno pássaro

Tinha uma carreira perfeita. Conhecida mundialmente, fotógrafos, jornais todos aos seus pés. Todos os homens do mundo a desejava. Um talento sem igual. Cantava como um pequeno pássaro cantarolava nas manhãs ensolaradas de sábado.  
Para o mundo era uma mulher feliz possuía automóveis e imóveis de alto custo. Era objeto de inveja para todas as mulheres do país. Mas essa nunca fora a carreira que sonhara.
Desde criança seu sonho era constituir uma família e ser feliz ao lado de seu amor até a morte. Mas o destino pregou-lhe uma peça e fez com que ela transforma-se naquela mulher.
Apesar de ter tudo e todos aos seus pés ela era infeliz. Sentia inveja ao ver nas ruas mulheres levando seus filhos para passear e saber que nunca poderia ter aqueles hábitos. Não tinha tempo para filhos, família, relacionamentos.Sua vida resumia-se a viagens, shows. O único tempo que tinha para sonhar com um futuro que ela escolhera era na hora de dormir. Dormia tarde por dedicar grande parte de suas madrugadas a suas utopias. Estava ciente que eram apenas sonhos e que não iria realiza-los. Não nesta vida.
Certo dia convocou uma coletiva de imprensa e decidiu dar fim em sua carreira. O mundo abismou-se com aquela decisão. Ela não explicou os motivos concretos para o abandono de sua vida artística.
Foi então que viajou para França em busca de paz. Em seu segundo dia na cidade de Paris, foi até a Torre Eiffel levando consigo uma caixa a qual guardava todas as suas lembranças de infância. Seus diários, seus recortes. Sentou-se em frente a torre e colocou-se a ler tudo que escrevia. Pegou-se chorando de saudade. Chegou a conclusão que não seria feliz nesta vida. Abandonou a caixa ali mesmo em frente a torre e saiu caminhando para o hotel. Lá, tomou remédios e dormiu. Um sonho profundo e eterno.

domingo, 11 de julho de 2010

"Minh'alma esta farta de tanta desilusão. De amores impossíveis, desejos insaciáveis e beijos nunca tidos."
Era esta a frase que dizias diariamente para convencer-me a entrar no teu jogo. Sabias que ninguém resistia ao teu poder de sedução. 'BANDIDA!' 
Levavas qualquer ser a perdição, induzia qualquer um ao erro com apenas um olhar. Todos caíam de desejos por ti e feliz daquele que conseguisse ao menos tocar teu rosto.
Brincavas com meus sentimentos mais sinceros. Esnobava-me por não conseguir saciar-te. Óh como sofri em tuas mãos. Como chorei noites solitárias por saber que nunca fui o que tu querias e jamais seria os homem de tua vida. Tu, uma 'mundana' irias apaixonar-te por um verme que mal tinha onde dormir. Tinhas mais apreço por um animal de rua que por meus beijos. Cada segundo ao teu lado era uma batalha, aceitava cada ofensa tua por amor. Apenas por amor. Mas sofri demais, e agora é minha vez de falar-te que minh'alma esta farta de tanta desilusão. De amores impossíveis, desejos insaciáveis e beijos nunca tidos. Porque tu, jamais fora a pessoa certa para mim.





[Patrícia Vidão]

domingo, 4 de julho de 2010

Ela estava cansada daquela vida medíocre. Do marido bêbado, das dívidas e das cobranças familiares. Ha 10 anos ela levava aquele casamento infeliz. Nunca fora a mulher mais feliz do mundo. Sofria de uma doença rara que a consumia mais e mais a cada dia. Não tinha filhos. Nem queria. Achava que as preocupações que o marido trazia para ele diariamente já era demais. Sofria calada, e se odiava a cada minuto por não ter feito diferente. Se odiava por ter escolhido o homem errado, por sofrer calada,por não ser feliz. Culpava-se diariamente. E desejava morrer a cada dia que ía ao médico e enfrentava uma série de exames. Desejava morrer também cada vez que o marido abria a porta e lançava aquele olhar fulminante revestido de ódio e desejo. Era obrigada a ser mulher não só em casa, mas na cama para um homem bêbado e completamente agressivo.Chorava diariamente sua vida de desgraças. Sempre sonhou em ter uma profissão.Mas sua doença a impedia de exercer qualquer função. E o marido tinha ciumes afirmava diariamente que 'mulher dele não precisava trabalhar.'.Mas ela sentia essa necessidade. Porém, não podia. A única coisa a qual ela não era proibida era sonhar. Sonhava sozinha em seu quarto. Voava em seus pensamentos e vivia perfeitamente feliz no 'seu mundo' no mundo dos seus sonhos. Mas quando acordava tudo voltava como uma tempestade. Os exames, a falta de amor do marido, as dívidas. E então, a mulher triste e infeliz toma conta novamente. Certo dia ao acordar, ela abriu as janelas e prestou atenção no brilho do sol como nunca prestara antes.Foi então que decidiu arriscar, vestiu seu melhor vestido, arrumou-se toda. Abriu a porta do apartamento e saiu. Sentiu-se como um pássaro libertado da gaiola. E saiu sem destino.


[Patrícia Vidão]

sábado, 3 de julho de 2010

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Era uma noite fria. Ele estava sentado diante o mar. Sentia o vento gelado bater em sua face como se estivesse agredindo. Sentia também lágrimas geladas escorrerem pelo rosto. Elas ardiam. Mas não maltratavam tanto quanto a dor que ele sentia em seu coração. Ao ver cada onda quebrar no mar, sentia como se parte de seu coração quebrasse também. Ele estava só. E se arrependia muito do que fizera a horas atrás. Como poderia agir tão brutalmente? como poderia ter mentido por tanto tempo? como conseguira ser tão falso?. Ele não possuía as respostas para todas aquelas perguntas. Ele estava arrependido. Mas nenhum arrependimento poderia mudar o trajeto de sua história. E não restava mais nada a fazer apenas olhar o mar, chorar e chorar. Ele não sabia o rumo que sua vida iria tomar depois daquele dia. Como seria no trabalho, com a família e ate mesmo consigo. Ele estava verdadeiramente preocupado com o que aconteceria com sua vida depois daquele dia. Talvez este momento fora o único de sua vida que ele tinha uma preocupação verdadeira. Foi então que ele olhou para o mar fixamente, levantou-se e saiu. Caminhando sozinho...



[Patrícia Vidão]

sexta-feira, 2 de julho de 2010

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"-Não poderiamos ter feito isso." Repetia pela décima vez o rapaz desesperado. Enquanto Clarice estava sentada na grama com seu vestido cor creme e sapatos de boneca aos prantos. Ela sabia que não poderia ter feito aquilo, mas sabia também que se não tivesse feito morreria só de desejos . Diante daquele cenário não havia mais saídas. O rapaz de nome Jan, caminhava de um lado para o outro como um louco gritava e pedia ajuda aos céus. Clarice fitava-o com atenção com seus olhos grandes do tamanho da lua e chorava, chorava. Jan estava convicto dos riscos que não só ele mas Clarice estavam submetidos caso ele decidisse falar com a família. Era uma alternativa fora de cogitação. O casal praticara um crime imperdoável e caso alguem descobrisse estavam mortos. Os dois jovens não pensavam em crime quando sentiam um corpo tocar o outro, quando lábios se encontraram e deram lugar ao desejo, quando a chama da paixão acendeu e um incesto aconteceu. A noite foi caindo e os dois continuaram onde estavam, confusos e sem nenhuma solução.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

Espero que o tempo passe.

 Rio de Janeiro, 1985
Tudo se inicia com teu fim. Não foi o adeus na forma que mais desejavamos. Mais estavamos juntos na saúde e na doença na alegria e na tristeza. Mas e agora? e na minha tristeza, quem está comigo? Quem estava ao meu lado ao ver seu caixão descer sem que eu pudesse ao menos impedir aquilo? Quem vai secar minhas lágrimas? Não tem ninguém.
Saindo daquele lugar terrível onde te deixei fui para nosso lar. Tudo estava tão calmo a tua espera. Cada detalhe como tu deixara. E negava-me a mudar. Eu precisava de cada coisa, cada detalhe que me fazia lembrar de você. Seu perfume no frasco, sua escova na penteadeira, seu vestido no armário, seu travesseiro ao meu lado.Nossos amigos me ligavam, me chamavam para sair mas eu negava e dizia que precisava de um tempo só. Mas já faziam seis meses que essa minha solidão caregada de tristeza me acompahava. Nada mais me importava pois eu não tinha mais você. Larguei o trabalho, os amigos para ficar em casa e lembrar de você. Assistir nossos vídeos, ver tuas fotos, ler teus livros e até mesmo usar teu perfume como forma de te ter em mim. Eu não conseguia digerir a ideia que tu tinha morrido sem ao menos poder dizer-me "adeus". Também não consigo perdoar-me por não estar ao teu lado naquela hora, na tua última hora entre nós. Não consigo ver o brilho do sol sem que lembre dos teus olhos, a lua me causa inveja só pelo fato de estar mais próxima de ti. Não vivo mais.Não enxergo a necessidade de viver sem tu ao meu lado.


Portugal, 2008

23 anos depois, ao ler nessas páginas amareladas os textos que escrevia para ti sinto imensa pena daquele 'eu' que perambulava dentro daquela casa.Os anos passaram, pessoas surgiram e livraram-me daquele infinito particular que criei. A vida mudou depois que uma delas, chamada Janice veio a mim . Esta ajudou-me, escutou cada desabafo com palavras repetidas e aproximou-se de mim como jamais pensei. Hoje, ela é minha esposa, sinto grande apreço por ela. Temos uma vida boa. Mas o que Janice e o mundo sabe é que o grande amor da minha vida foi/é tu. Não importa aonde tu estejas e não importa o tempo que levará para nos encontrarmos. Só quero que saiba que eu amo você.




[Patrícia Vidão]