terça-feira, 29 de junho de 2010

a lot of pain

Brasil,1968
O cenário desta minha narrativa é o DOI-CODI para quem não sabe é um orgão de repressão. Meu nome é Eva tenho 19 anos e estou presa a dois meses. Todos os dias sofro um tipo de tortura.Fico numa cela juntamente a dois outros presos políticos como eu, João e Claúdio. João foi preso na UnB em Brasília e trazido para cá pois alegavam que ele era perigoso. Eu não acho, ele só lutou pelos nossos ideais, e é um rapaz muito inteligente. Claúdio foi preso porque estava na missa de Édson, os policiais prenderam o coitado e o trouxeram para cá. Por ser o mais tímido, mais calado. É o que mais sofre tortura. Mas todos nós sofremos igual só pelo fato de estarmos aqui. Durante esses dois meses de chumbo diga-se de passagem, formulamos um plano para sair daqui e lutar junto aos nossos lá fora.Claúdio evita muito em participar, pois tem muito medo dos militares. Nosso plano tem tudo para dar certo e será executado no dia 26/06/1968 (passeata dos cem mil). 


Brasil 2009

Ao ler esse diário, a única coisa que me restou além das cicatrizes, sinto imensa saudade dos meus anos de chumbo. Foi um ano dolorido, triste e de revoltas. Porém, foi neste ano, naquela cela daquele lugar terrível que conheci Cláudio. Falo pouco dele nessas páginas que contam minha vida. Mas em meu coração tenho a lembrança de cada sorriso tímido e cada lágrima arrependida dele. Apesar de estar naquele lugar sendo considerada uma mulher perigosa para a sociedade, eu tinha um coração dentro de mim. Um coração que para mim só iria bater para a revolução. Mas não, enganei-me profundamente ao ver aquele rapaz bonito e de poucas palavras entrar naquela cela. Ele sofria muito, e como dissera, sofreu as mais terriveis torturas sem ter culpa em nada. Chorava muito. Opinava sem se quer sair uma palavra de seus lábios feridos. Sorria para mim com um olhar. Eu na frente de João achava-o um bobo. Mas dentro de mim um coração batia forte por aquele rapaz. Foi então que chegou o dia 25/06/1968 a véspera de nossa fuga. Estava tudo pronto, bastava colocarmos o plano em prática. Tudo fora estudado, cada movimento, cada olhar. Tudo iria acontecer na hora da tortura.Antes que tudo acontecesse cheguei perto de Cláudio -que estava com muito medo mas decidira que iria conosco- para conversar, tentar acalma-lo ele ouviu cada palavra que saía de minha boca e me disse "Eu não quero ir, tenho medo. Mas vou por você. Só por você.Agora não desgruda de mim." aquelas palavras entraram nos meus ouvidos como os gritos que davamos em protestos, soavam como música. Apartir daquele momento ele estava ao meu lado. O plano foi posto em prática, conseguimos sair com muito sacrifício acompanhado de medo. Passamos a noite numa mata escondidos. Se fossemos pegos, seríamos mortos. Ao raiar do dia, seguimos para a passeata. Tomando todo cuidado para que não fossemos vistos por policiais afinal, eles estavam em todo lugar. Chegando perto da concentração da passeata, dois policiais vieram ao nosso encontro, João e eu passamos despercebidos, mas Claúdio fora surpreendido pelos policiais. Eles pararam Claúdio e pediram um documento de identificação, ele não tinha pois estava tudo preso no DOI-CODI. Foi então que vi quando eles levarem Cláudio pelos braços. E aquela foia última vez que vi o homem da minha vida.




[Patrícia Vidão]

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